Observo os pensamentos que fervilham diante da criação. É como se
a mente criativa partisse do caos. Assim como um quarto cheio de
bugigangas jogadas pelo chão e em todos os outros cômodos do que chamo "A Casa Labiríntica".
O que para muitos
pode causar estranheza eu chamo de processo criativo e são esses
pequenos fragmentos jogados, de cenas durante o dia corrido,
das que vejo e as que observo, é que surge a poesia.
"Todas as
coisas tem um mistério e a poesia é o mistério que todas as coisas têm."
Garcia Loca
Observe:
As que 'vejo'
passam simplesmente despercebidas a minha atenção, da nossa atenção. São as
inúmeras coisas que passam na sua frente que a distração não deixou processar e
entender o que realmente era aquilo. São várias as informações que me invadem
no dia corrido. Imagens, sons, cenas, mas nada suficientemente atraente para
despertar a minha atenção. Neste momento em que estamos fora de nós mesmo é que
perdemos muitas coisas que acontecem ao nosso redor.
Aquele momento em que
você se distraia e dedicava sua atenção a observar algo inútil muita
coisa aconteceu. E você apenas viu.
Já as que 'observo'
me trazem ideias. Ideias criativas e inúteis em sua maioria. Observo a conversa
nos coletivos, os passageiros a minha frente, o rosto ou o corpo de uma linda
moça bonita, uma frase que me marca, a música que toca no transporte coletivo e
várias outras coisas que prendem minha atenção até entender o que realmente se
passa ao meu redor. O universo criativo é assim.
Vendo ou
observando tudo aquilo é jogado na Casa Labiríntica, não há uma ordem, uma
organização. É simplesmente um microcosmo dentro de si, um monte de fragmentos
amontoados. Os observados são óbvios e os vistos esquecidos na maioria das
vezes. É preciso concentração.
Assim se junta
cada pedaço aleatoriamente, um mínimo de inspiração e se forma uma poesia...
O Mundo em um grão de areia.
Já faz tempo que as
coisas saíram do lugar
Nada que se
pregava como verdade vingou
Penso na mutação
social humana
Vejo quanta coisa
mudou
Formo palavras baseadas no ser humano
Analiso tanta
coisa que não dá para enumerar e descrever
Indagações e
frustrações inexatas
Venho e ponho-me a
escrever
Assim meus amores
ficaram para trás
Meu amor eterno
jurei mil vezes com vigor
Hoje não passam de
histórias alegres (ou quase)
Hoje amo um novo
amor.
E os amigos que
jurei apoiar
Juraram a mim sua
lealdade
Hoje somos
meros estranhos conhecidos
Hoje tenho novos
amigos para a "eternidade" (?).
Irônico é a vida
do homem
Onde só se pensa
na egoísta necessidade
De satisfazer suas
carências inúteis
Esquecemos que
tudo tem data de validade
Inimigos
Nem eles mais tem
tido seu brilho e seu poder
Meus inimigos
tornaram-se meus amigos
Novos inimigos
terei de fazer (?).
Deus voltou
Ou nuca se foi
deste mero mortal
E agora que discurso
usará para aparecer
Acredito e
desacredito nesta novela celestial
Vejo tudo que com
muito esforço criei
Hoje fujo desta
aberração e reinvento
Não vale a pena
mais essa condição
De ser tão feio
por fora quanto se é belo por dentro.
É preciso se
permitir
Aceitar que há vários fins nessa estrada
Vejo-me amparado
em uma consciência sem lógica
Que entendo ser o
nada.
Assim conselho a
todo ser vivente
Mude, experimente
o que te rodeira.
Veja o tempo
passar
E observe o mundo
em um grão de areia.
Gabriel Pontes